Jornalismo, misoginia e a revitimização da mulher

Autores

  • João Freire Filho Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
  • Júlia dos Anjos Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil https://orcid.org/0000-0002-9024-1267

DOI:

https://doi.org/10.30962/ec.2555

Palavras-chave:

Mídia, Violência de gênero, Misoginia, Enquadramento

Resumo

O objetivo deste artigo é discutir o jornalismo como instância promotora da revitimização de mulheres que acusam homens de violência. Com o apoio de um quadro teórico de estudos antropológicos, históricos e filosóficos sobre gênero e emoções, argumentamos que tal modus operandi do jornalismo funciona como elo do que chamamos de cadeia comunicativa de misoginia. A reflexão se baseia em um estudo de caso envolvendo matérias do portal G1 sobre a acusação de agressão feita por Poliana Bagatini, em 2017, contra o cantor Victor Chaves (seu marido à época) e a posterior condenação do acusado, em 2020. A metodologia está fundamentada na teoria do enquadramento e na compreensão bakhtiniana do discurso.

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Biografia do Autor

João Freire Filho, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil

Doutor em Literatura Brasileira pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Professor associado da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq (PQ-1D).

Júlia dos Anjos, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil

Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Integrante do grupo de pesquisa Núcleo de Estudos de Mídia, Emoções e Sociabilidade. Bolsista do CNPq com projeto de pesquisa sobre feminicídio na mídia.

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Publicado

10-06-2022

Como Citar

Freire Filho, J., & Cavalcanti Versiani dos Anjos, J. (2022). Jornalismo, misoginia e a revitimização da mulher . E-Compós, 25. https://doi.org/10.30962/ec.2555

Edição

Seção

Artigos Originais