Tortura, Jogo e a Experiência Negra

Autores

  • Aaron Trammell University of California, Irvine, Califórnia, Estados Unidos

DOI:

https://doi.org/10.30962/ec.2618

Palavras-chave:

play studies, tortura, raça

Resumo

Este ensaio considera como a experiência do povo negro descendente de escravos na América do Norte nos ajuda a repensar uma definição de jogo que tem sido amplamente determinada por pensadores e filósofos trabalhando dentro de uma tradição branca europeia. Essa tradição do jogo, teorizada mais famosamente pelo historiador holandês Johan Huizinga, pelo sociólogo francês Roger Caillois, pelo psicólogo suíço Jean Piaget e o neozelandês Brian Sutton-Smith, lê o jogo em um sentido majoritariamente positivo e garante que certas práticas, nomeadamente a tortura, são tabu, e, portanto, não podem ser jogo. Eu argumento que essa abordagem sobre o jogo é míope e se relaciona com um discurso global preocupante que torna invisíveis as experiências de povos negros, indígenas e pessoas de cor. Em outras palavras, ao definir o jogo apenas através de suas conotações prazerosas, o termo mantém um viés epistêmico em relação às pessoas com acesso às condições de lazer. De fato, a tortura nos ajuda a desenhar um quadro mais completo onde os potenciais mais hediondos do jogo podem ser abordados juntamente com os mais prazerosos, mesmo que, ao fazer isso, o trauma da escravidão seja relembrado. Ao repensar esta fenomenologia, eu foco em detalhar os modos mais insidiosos em que o jogo funciona como uma ferramenta de subjugação. Uma que machuca tanto quanto cura e uma que tem sido complacente com o apagamento sistemático de pessoas negras, indígenas e de cor do domínio do lazer.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Aaron Trammell, University of California, Irvine, Califórnia, Estados Unidos

Aaron Trammell, PhD, é Professor Assistente de Informática na University of California, Irvine. É graduado pela Rutgers University School of Communication and Information desde 2015 e passou um ano estudando na Annenberg School of Communication na University of Southern California como pesquisador de pós-doutorado. Aaron foca sua pesquisa em revelar as conexões histórias entre jogos, play e o complexo militar-industrial dos Estados Unidos. Ele tem interesse em como ideologias políticas e sociais são integradas na prática de design de jogos e como essas perspectivas são negociadas dentro dos imaginários dos jogadores. Além de seu trabalho na revista Analog Game Studies, ele também é Editor Multimídia na revista Sounding Out!

Referências

BUTT, M.; APPERLEY, T. “Shut up and Play”: Vivian James and the Presence of Women in Gaming Cultures. In: BUTT, M.; APPERLEY, T. Decolonising the Digital: Technology As Cultural Practice. Sydney: Tactical Space Lab. 2018.

BUTLER, J. Gender Trouble: Feminism and the Subversion of Identity. Nova York: Routledge, 1990.

CAILLOIS, R. Man, Play and Games. Chicago: Simon and Schuster, 2001.

DU BOIS, W. The Souls of Black Folk. Mineola: Dover Publications, 1994.

DUBOIS, P. Torture and Truth. In: SCHULZ, W. (Org.). The Phenomenon of Torture: Readings and Commentary. Filadélfia: The University of Pennsylvania Press, 2007. p. 13-15.

EIDELPES, R. Roger Caillois’ Biology of Myth and the Myth of Biology. Anthropology & Materialism, v. 2, p. 1-18, 2014.

FOUCAULT, M. Discipline and Punish: the Birth of the Prison. Nova York: Random House, 1977.

______. The History of Sexuality. Nova York: Random House, 1978.

GEERTZ, C. Deep Play: Notes on the Balinese Cockfight. Daedadalus, v. 101, n. 1, p. 1-37, 1972.

GRAY, K. Intersectional Tech: Black Users and Digital Gaming. Baton Rouge: LSU Press, 2020.

______. Deviant Bodies, Stigmatized Identities, and Racist Acts: Examining the Experiences of African-American Gamers in Xbox Live. New Review of Hypermedia and Multimedia, v. 18, n. 4, p. 261-276, 2012.

HARRIS, J. Slave Play. Nova York: Theater Communications Group, 2019.

HARVIAINEN, T. Sadomasochist Role-Playing as Live-Action Role-Playing: a Trait-Descriptive Analysis. International Journal of Role-Playing, n. 2, p. 59-70, 2011.

HOOKS, b. Understanding Patriarchy. Loisville: Louisville Anarchist Federation, 2010.

HUIZINGA, J. Homo ludens: a Study of the Play-Element in Culture. Nova York: Routledge, 2016.

JORGENSEN, K.; KARLSEN, F. (Eds.). Transgression in Games and Play. Nova York: MIT Press, 2019.

JUUL, J. Half-Real: Videogames between Real Rules and Fictional Worlds. Cambridge: The MIT Press, 2005.

KING, W. Stolen Childhood: Slave Youth in Nineteenth-Century America. Bloomington: Indiana University Press, 2011.

LEONARD, D. High Tech Blackface: Race, Sports, Videogames and becoming the Other. Inteligent Agent, v. 4, n. 2, p. 1-5, 2004.

______. Not a Hater, Just Keepin’ It Real: The Importance of Race- and Gender-Based Game Studies. Games and Culture, v. 1, n. 1, p. 83-88, 2006.

MALKOWSKI, J.; RUSSWORM, T. Introduction: Identity, Representation, and Video Game Studies. In: MALKOWSKI, J.; RUSSWORM, T. Gaming Representation: Race, Gender, and Sexuality in Videogames. Indianapolis: Indiana University Press, 2017.

MCDONALD, P. Homo Ludens: A Renewed Reading. American Journal of Play, v. 11, n. 2, p. 247-267, 2019.

MORTENSEN, T. E.; LINDEROTH, J.; BROWN, A. M. L. (Eds.). The Dark Side of Game Play: Controversial Issues in Playful Environments. Nova York: Routledge, 2015.

NAKAMURA, L. Race In/For Cyberspace: Identity Tourism and Racial Passing on the Internet. Works and Days, v. 13, p. 181-193, 1995.

PIAGET, J. Play Dreams & Imagination in Childhood. Nova York: W. W. Norton and Company, 1962.

RUSSWORM, T. Video Game History and the Fact of Blackness. ROMchip, v. 1, n. 1, [s. p.], 2019.

SALEN, K.; ZIMMERMAN, E. Rules of Play: Game Design Fundamentals. Cambridge: The MIT Press, 2004.

SCHULZ, W. F. The Phenomenon of Torture: Readings and Commentary. Filadélfia: University of Pennsylvania Press, 2007.

SICART, M. Play Matters. Cambridge: The MIT Press, 2014.

SMITH, K. Broadway Blackout. The National Review, [s. p.], 18 set. 2019. Disponível em: <https://www.nationalreview.com/corner/broadway-blackout/>. Acesso em: 23 maio 2022.

STENROS, J. Guided by Transgressions: Defying Norms as an Integral Part of Play. In: JORGENSEN, K.; KARLSEN F. (Orgs.). Transgression in Games and Play. Cambridge: The MIT Press, 2019. p. 13-25.

______; BOWMAN, S. L. Transgressive Role-Play. In: ZAGAL, J; DETERDINGS, S (Orgs.). Role-Playing Game Studies: Transmedia Foundations. Nova York: Routledge, 2018. p. 411-424.

SUTTON-SMITH, B. The Ambiguity of Play. Cambridge: Harvard University Press, 1997.

TRAN, D. How ‘Slave Play’ Got 800 Black People to the Theater. American Theater, [s. p.], 23 set. 2019. Disponível em: <https://www.americantheatre.org/2019/09/23/how-slave-play-got-800-black-people-to-the-theatre/>. Acesso em: 23 maio 2022.

VOSSEN, E. The Magic Circle and Consent in Gaming practices. In: GRAY, K; VORHEES, G; VOSSEN E. (Orgs.). Feminism in Play. Cham: Palgrave Macmillan, 2018. p. 205-220.

WEISS, M. Circuits of Pleasure: BDSM and the Circuits of Sexuality. Durham: Duke University, 2011.

VYGOTSKY, L. Igra i ee rol v umstvennom razvitii rebenka, Voprosy Psihologii [Problems of Psychology], v. 12, n. 6, p. 62-76, 1966/2015.

ZIMMERMAN, E. Jerked aroung by the Magic Circle – Clearing the Air Ten Years Later. Gamasutra, [s. p.], 7 fev. 2012. Disponível em: <https://www.gamasutra.com/view/feature/135063/jerked_around_by_the_magic_circle_.php> Acesso em: 25 jan. 2022.

Downloads

Publicado

12-07-2022

Como Citar

Trammell, A. (2022). Tortura, Jogo e a Experiência Negra. E-Compós, 25. https://doi.org/10.30962/ec.2618

Edição

Seção

Artigos Originais