Construindo espaços fluidos:

a potência narrativa da incerteza nas análises de jornalismo

Autores

DOI:

https://doi.org/10.30962/ec.2189

Palavras-chave:

Jornalismo. Narrativa. (In)certeza.

Resumo

Neste artigo, refletimos sobre o jornalismo e a necessidade de se reformular as relações deste com suas próprias narrativas de certeza. Traçamos um caminho pelos estudos de jornalismo e os de narrativa, trazendo o exemplo sobre as manchas de óleo que apareceram nas praias do litoral do nordeste brasileiro, em 2019. Essas narrativas de incerteza e imprecisão constroem espaços fluidos nos quais pensamos o lugar de privilégio que o jornalismo – mediador e narrador do mundo – construiu para si, e o quanto os que se dedicam a analisar suas narrativas também precisam repensar esses caminhos de idealizações.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Clara Câmara, Universidade Federal Fluminense, Niterói, Rio de Janeiro, Brasil

Doutora em Comunicação pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense. Bolsista de Pós-Doutorado - Capes Brasil - Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação.

André Bonsanto , Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Mossoró, Rio Grande do Norte, Brasil

Doutor em Comunicação pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense. Bolsista de Pós-Doutorado (PNPD/Capes) e professor colaborador no Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais e Humanas da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN.

Referências

ALBUQUERQUE, Afonso. A narrativa jornalística para além dos faits-divers. Lumina, Juiz de Fora, v. 3, n. 2, p. 69-91, jul./dez. 2000. Disponível em: <http://www.ufjf.br/facom/files/2013/03/R5-Afonso-HP.pdf>. Acesso em: 06 jan. 2020.

AMORIM, Felipe. Defesa contradiz Bolsonaro sobre óleo e diz não saber se pior está por vir. UOL, Brasília, 4 de nov. 2019. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/meio-ambiente/ultimas-noticias/redacao/2019/11/04/nao-sabemos-quanto-oleo-ainda-pode-chegar-as-praias-diz-ministro-da-defesa.htm>. Acesso em: 12 dez. 2019.

ARENDT, Hannah. Compreender: formação, exílio e totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

______. Entre o passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva, 2009.

AZEVEDO, Ana Lucia; JOHANNS, Eller. Marinha e Ibama negam mancha de óleo de 200 km, mas UFRJ mantém alerta. O Globo, Rio de Janeiro, 30 out. 2019. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/sociedade/oleo/marinha-ibama-negam-mancha-de-oleo-de-200km-mas-ufrj-mantem-alerta-24050026>. Acesso em: 15 dez. 2019.

BARBOSA, Mariana (Org). Pós-verdade e fake news: reflexões sobre a guerra de narrativas. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.

BARTHES, Roland et al. Análise estrutural da narrativa. Petrópolis: Vozes, 1971.

BENNETI, Marcia; HAGEN, Sean. Jornalismo e imagem de si: o discurso institucional das revistas semanais. Estudos em Jornalismo e Mídia, ano VII, n. 1, p. 123-135, jan./jun. 2010.

BERGER, Peter; LUCKMANN, Thomas. A construção social da realidade: tratado de sociologia do conhecimento. 23. ed. Petrópolis: Vozes, 2003.

BIRD, Elizabeth: DARDENNE, Robert. Mito, registro e “estórias”: explorando as qualidades narrativas das notícias. ln: TRAQUINA, Nelson (Org.). Jornalismo: questões, teorias e "estórias". 2. ed. Lisboa: Vega, 1993.

BONSANTO, André. A verdade dita é dura: “histórias da verdade” do/no jornalismo e a ditadura militar no Brasil. 2018. 387 f. Tese (Doutorado em Comunicação) – Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2018.

BRUCK, Mozahir Salomão; SANTOS, Bruno Raquel de Oliveira. O fazer jornalístico e o enfrentamento de cenários complexos inaugurais. Estudos em Jornalismo e Mídia, v. 11, n. 2, p. 569-583, jul/dez. 2014.

CÂMARA, Clara Bezerril. A “mentalidade escândalo”: uma análise das narrativas de malfeitos a partir das polarizações suscitadas no jornalismo brasileiro. 2019. 260 f. Tese (Doutorado em Comunicação) – Universidade Federal Fluminense, 2019.

CARDIM, Maria Eduarda; TEÓFILO, Sarah. Vazamento de óleo em praias do Nordeste ainda é mistério para autoridades. Correio Braziliense, Brasília, 20 de fev. 2020. Disponível em: <https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/brasil/2020/02/20/interna-brasil,829204/vazamento-de-oleo-em-praias-do-nordesteainda-e-misterio-para-autorida.shtml>. Acesso em: 20 set. 2020.

CARR, Edward Hallet. Que é história? Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.

CHARAUDEAU, Patrick. Discurso das mídias. São Paulo: Contexto, 2006.

CHRISTOFOLETTI, Rogério. O jornalismo entre a dúvida e a incerteza: reflexões sobre a natureza da atividade. Comunicação & Sociedade, São Bernardo do Campo, a. 29, n. 50, p. 203-221, 2. sem. 2008.

CORNU, Daniel. Jornalismo e verdade: para uma ética da informação. Lisboa: Instituto Piaget, 1999.

D’ANCONA, M. Pós-verdade: a nova guerra contra os fatos em tempos de fake news. Barueri: Faro Editorial, 2018.

FABRINI, Fábio; CHAIB, Julia. Volume de óleo nas praias do nordeste diminuiu, diz Marinha”. Folha de S. Paulo, Brasília, 26 out. 2019. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2019/10/volume-deoleo-nas-praias-do-nordeste-diminuiu-diz-marinha.shtml>. Acesso em: 10 dez. 2019.

FILGUEIRAS, Isabel et al. Jornalismo em tempos de pós-verdade. Fortaleza: Dummar, 2018.

FRANÇA, V. O acontecimento e a mídia. Galáxia, São Paulo, n. 24, p. 10-21, dez. 2012.

FRIAS FILHO, Otavio. O que é falso sobre fake news. Revista USP, São Paulo, n. 116, p. 39-44, jan./mar., 2018.

GINZBURG, Carlo. Mitos, emblemas, sinais. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 1989.

GOMES, Wilson. Jornalismo, fatos e interesses: ensaios de teoria do jornalismo. Série jornalismo a rigor. v.1. Florianópolis: Insular, 2009.

GREIMAS, Algirdas Julien. Elementos para uma teoria da interpretação da narrativa mítica. In: BARTHES, Roland et al. Análise estrutural da narrativa. Petrópolis: Vozes, 1971.

HABERMAS, Jürgen. Mudança estrutural da esfera pública: investigações sobre uma categoria da sociedade burguesa. São Paulo: Editora Unesp, 2014.

JÁCOME, Phellipy Pereira. Jornalismo e autolegitimação: a historicidade dos discursos autorreferentes. Leituras do jornalismo. ano 1, n. 2, p. 54-66, jul./dez. 2014.

KLAUTAU, Carolina Moura. Jornalismo, Incerteza e Complementaridade de Opostos: Um diálogo compreensivo. 2018. 268f. Dissertação (Mestrado em Comunicação) – Faculdade Cásper Líbero, São Paulo, 2018.

KÜNSCH, Dimas A. Comprehendo ergo sum: Epistemologia complexo-compreensiva e reportagem jornalística. Communicare, v. 5, n. 1, p. 43-54, 1º sem. 2005.

______. A comunicação, a explicação e a compreensão: ensaio de uma epistemologia compreensiva da comunicação. Líbero, v. 17, n. 34, p. 111-122, jul./dez. 2014.

LAGE, Nilson. A reportagem: teoria e técnica de entrevistas e pesquisa jornalística. Rio de Janeiro: Record, 2001.

LOPES, Fernanda Lima. Auto-referência, discurso e autoridade jornalística. BOCC – Biblioteca on-line de Ciências da Comunicação, Labcom, 2007.

LOPES, Felisbela et al. E. coli: uma doença em notícia em discursos de incerteza e contradição.

Observatorio Journal, vol.6 - nº1, p. 159-181, 2012.

MACHADO, Elias. O ciberespaço como fonte para os jornalistas. Biblioteca Online de Ciências da Comunicação, Universidade da Beira Interior, 2002. Disponível em: <http://www.bocc.ubi.pt/pag/machadoelias-ciberespaco-jornalistas.pdf>. Acesso: 21 set. 2020.

MARINHA conclui investigação sobre derramamento de óleo, mas não encontra culpado. Jornal Nacional, 27 ago. 2020. Disponível em: <https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2020/08/27/marinha-concluiinvestigacao-sobre-derramamento-de-oleo-mas-nao-encontra-culpado.ghtml>. Acesso em: 20 set. 2020.

MOTTA, Luiz Gonzaga. “Teoria da notícia: entre o real e o simbólico”. In: MOUILLAUD, Maurice; PORTO, Sérgio Dayrell (Orgs.). O jornal: da forma ao sentido. Brasília: Paralelo 15, 1997.

______. Jornalismo e configuração narrativa da história do presente. Revista Contracampo, n. 12, p. 23-50, 2005.

______. Análise crítica da narrativa. Brasília: Editora UnB, 2013.

MORIN, Edgar. O Método: 1. a natureza da natureza. Porto Alegre: Sulina, 2002.

______. Introdução ao pensamento complexo. Porto Alegre: Sulina, 2005.

NÃO SE SABE se poluição com óleo em praias está perto do fim, diz ministro da Defesa. Folha de S. Paulo. Brasília, 29 out. 2019. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2019/10/nao-se-sabe-sepoluicao-com-oleo-em-praias-esta-perto-do-fim-diz-ministro-da-defesa.shtml>. Acesso em: 10 dez. 2019.

NERONE, John. The journalism tradition. In: EADIE, William F. (Ed.). 21st Century Communication: A Reference Handbook. Beverly Hills: Sage, 2009.

______. The historical roots of the normative model of journalism. Journalism, v. 14, n. 4, p. 446-458, 2012.

______. History, Journalism, and the Problem of Truth. In: BRENNEN, Bonnie (Ed.) Assessing Evidence in a Postmodern World. Diederich Studies in Communication and Media. n.3. Milwaukee: Marquette University Press, 2013.

PETROBRÁS. Esclarecemos que o óleo encontrado em praias do Nordeste não é da Petrobrás. Petrobrás, 25 set., 019. Disponível em: <http://www.petrobras.com.br/fatos-e-dados/esclarecemos-que-oleoencontrado-em-praias-do-nordeste-nao-e-da-petrobras.htm>. Acesso em: 12 dez. 2019.

PROPP, Vladimir. As raízes históricas do conto maravilhoso. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

QUÉRÉ, Louis. Entre facto e sentido: a dualidade do acontecimento. Trajectos - Revista de Comunicação, Cultura e Educação, Lisboa, n. 6, p. 59-75, 2005.

RANCIÈRE, Jacques. A partilha do sensível: estética e política. São Paulo: EXO experimental org.; Editora 34, 2009.

RESENDE, Fernando. O olhar às avessas: a lógica do texto jornalístico. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO, 13., 2004. Anais... São Bernardo do Campo: E-Compós, 2004. Disponível em: <http://www.compos.org.br/data/biblioteca_668.pdf>. Acesso em: 14 dez. 2019.

______. Jornalismo e suas Narrativas: as Brechas do Discurso e as Possibilidades do Encontro. Revista Galáxia, São Paulo, n. 18, p.31-43, dez. 2009.

______. Falar para as massas, falar com o outro: valores e desafios do jornalismo. In: FRANÇA, V; VAZ, P. (Orgs.) Comunicação midiática: instituições, valores, cultura. Belo Horizonte: Autêntica, 2012.

RICOEUR, Paul. História e verdade. Rio de Janeiro: Forense Editora, 1968.

______. Tempo e narrativa (Tomo I). Trad. Marina Appenzeller. Campinas: Papirus, 1995.

SAFATLE, Vladimir. É racional parar de argumentar. In: DUNKER, Christian et al. Ética e pós-verdade. Porto Alegre: Dublinense, 2017.

SCHUDSON, Michael. The politics of narrative form: The emergence of news conventions in print and television. Daedalus, p. 97-112, 1982.

SCHWARCZ, Lilia. Apresentação: Imaginar é difícil (porém necessário). In: ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas: reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

SODRÉ, Muniz. As estratégias sensíveis: afeto, mídia e política. Petrópolis: Editora Vozes, 2006.

______. A narração do fato: notas para uma teoria do acontecimento. Petrópolis: Vozes, 2009.

SPINELLI, Egle Müller; SANTOS, Jéssica de Almeida. Jornalismo na era da pós-verdade: fact-checking como ferramenta de combate às fake news. Revista Observatório, Palmas, v. 4, n. 3, p. 739-782, mai. 2018.

TODOROV, Tzvetan. As estruturas narrativas. São Paulo: Editora Perspectiva, 1969.

TUCHMAN, Gaye. A objectvidade como ritual estratégico: uma análise das noções de objectividade dos jornalistas. In: TRAQUINA, Nelson (Org.). Jornalismo: questões, teorias e “estórias”. Lisboa: Vega, 1993.

VALADARES, João. Vazamento de óleo em refinaria de Pernambuco atinge manguezal. Folha de S. Paulo, Recife, 27 ago. 2019. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2019/08/vazamento-deoleo-em-refinaria-de-pernambuco-atinge-manguezal.shtml>. Acesso em: 14 dez. 2019.

VATTIMO, Gianni. Adeus à verdade. Petrópolis: Vozes, 2016.

WHITE, Hayden. Trópicos do discurso: ensaios sobre a crítica da cultura. São Paulo: Edusp, 1994.

ZELIZER, Barbie. When facts, truth, and reality are God-terms: on journalism's uneasy place in

cultural studies. Communication and Critical/Cultural Studies, v. 1, n. 1, p. 100-119, 2004.

Downloads

Publicado

01-12-2021

Como Citar

Câmara, C., & Bonsanto , A. (2021). Construindo espaços fluidos:: a potência narrativa da incerteza nas análises de jornalismo . E-Compós, 24. https://doi.org/10.30962/ec.2189

Edição

Seção

Artigos Originais